terça-feira, 13 de março de 2012

            O EU E O MUNDO



O processo de simbolização permite ao sujeito separar-se do objeto, instaurando uma relação mediada do indivíduo com a realidade e sua representação; na equação simbólica, o símbolo funciona como se fosse a coisa que ele representa em nível inconsciente
Se existe uma área à qual todos os psicanalistas conferem enorme importância é a da utilização de símbolos pelo ser humano. Muitos se dedicam até mesmo a estudar a formação da capacidade simbólica. Dispor de uma função simbólica é a marca individual de desenvolvimento que ratifica a pertinência do sujeito à espécie. A maioria das orientações psicanalíticas, cada uma de seu ângulo, estuda questões de natureza simbólica da mente humana. Freud deu enorme importância ao símbolo, desde sempre interessado no significado simbólico das comunicações do paciente. A pesquisa sobre o simbolismo inconsciente dos sin­tomas histéricos dá início a seu percurso clínico psicanalítico, com a publicação de A interpretação dos sonhos, em 1900, tida como a obra fundante da psicaná­lise e na qual a questão do simbolismo assume relevância sem-par.

O símbolo, em sua obra, caracteriza-se como uma expressão cujo propósito é ocultar uma ideia inconsciente censurada. Representaria algo que foi reprimi­do da consciência, fenómeno que dá início ao processo de simbolização. Por exemplo, uma ideia do pênis é captada pelo inconsciente, mas repudiada, dando origem à possibilidade de ser representada no consciente por um avião.

Por outro ângulo, o símbolo inscreve o homem na cultura, a partir da lingua­gem. Para a linguística, por exemplo, toda palavra é um símbolo. Psicólogos e epistemólogos concordam que a simbolização é a chave dos processos mentais construtivos: os símbolos tornam humano o humano. A rigor, é a utilização que o homem pode fazer deles que o inscreve na cultura.

LUDOTERAPIA

O Brincar






Foi Melanie Klein que introduziu a técnica do jogo infantil para aceder aos conflitos internos e fantasias de uma forma mais fácil que a expressão verbal. A autora (1935) defendeu esta técnica equiparando-a à associação livre nos adultos, pois o brincar é uma das formas de expressão da fantasia e através dela a criança pode projectar a sua realidade interna.
 
Nas crianças psicóticas, é notória uma grande inibição do jogo, o que revela uma grave inibição da vida fantasmática, bem como do seu desenvolvimento em geral. As suas relações são vividas muito externamente, como se não houvesse mundo interno.

Através do brincar imagina-se e fantasia-se, descobrem-se sentimentos, resolvem-se conflitos interiores. Uma criança que não brinca, deve preocupar mais os pais do que aquela que faz uma birra pela manhã porque não quer ir para a escola.

A Ludoterapia é a psicoterapia adaptada ao tratamento infantil através da qual a criança, ao brincar, projecta o seu modo de ser. O objectivo desta modalidade de análise consiste em ajudar a criança a expressar com maior facilidade os seus conflitos interiores e dificuldades, ajudando-a na solução dos mesmos para que seja possível uma melhor integração e adaptação social. O psicólogo clínico observa e interpreta as suas projecções para compreender o mundo interno da criança e a dinâmica da sua personalidade. Para isso, são necessários instrumentos através dos quais as projecções são facilitadas, uma vez que quanto menor é a criança, mais dificuldade tem em verbalizar adequadamente os seus conflitos. Criam-se histórias e contos de fadas, brinca-se às casinhas, realizam-se desenhos, pinturas, modelagens....

Ao brincar, a criança sabe que se está a expôr pois actua representando as situações que a afligem. Intui-se transparente ao olhar do terapeuta.

A maior parte das crianças adere de forma positiva à ludoterapia e adquire confiança suficiente, em relação ao terapeuta, para se expôr, brincando livremente.

A ludoterapia destina-se essencialmente a crianças entre os três e os doze anos de idade e pode ser aplicada individualmente ou em grupo, dependendo da abordagem adoptada, bem como da problemática a ser trabalhada.

Alguns dos motivos que levam à procura desta terapia são as dificuldades de aprendizagem, distúrbios comportamentais, especialmente agressividade, dificuldades de socialização (comportamento anti-social), hiperactividade, problemas afectivos e emocionais, medos, traumas, enurese e/ou encoprese (fazer chi-chi na cama e descontrolo intestinal impróprio para a idade), baixa auto-estima, perturbações psicossomáticas (bronquite, alergias, dores de cabeça, alterações gastrointestinais...), pequenos delitos (mentiras, fugas ou pequenos furtos), ansiedade, depressão...

O tratamento é realizado em sessões de luterapia de aproximadamente 50 minutos cada, sessões estas que as crianças apreciam bastante, uma vez que não lhes é solicitada nenhuma actividade desagradável ou entediante.

De forma geral, a criança é um reflexo da dinâmica familiar, pelo que o envolvimento dos pais para o sucesso do tratamento constitui um factor fundamental. Nota-se uma melhoria nos sintomas ou até mesmo a supressão do quadro inicialmente apresentado, através da evolução das representações da criança, a nível da abordagem do tema ventral na brincadeira, no teor dos seus desenhos e no comportamento em geral.

O tempo de duração do tratamento através da ludoterapia é variável. Pode terminar ao fim das primeiras seis semanas, nos casos mais simples, como pode estender-se a um ou mais anos, em casos de dificuldades estruturais ou mais complexas.

Melanie Klein

         Um olhar para
O INCONSCIENTE
       profundo

 criadora da análise infantil fundou um sistema teórico próprio, ampliando a noção de inconsciente e introduzindo conceitos como fantasias pré-edípicas, objeto interno e identificação projetiva; seu sistema de pensamento redefiniu o campo das psicopatologías e inaugurou novas diretrizes clínicas



POR ELIAS MALLET DA ROCHA SARROS E ELIZABETH  LIMA DA ROCHA BARROS
Melanie Klein, em três décadas de produção escrita, criou a. principal corrente variante da psicanálise em relação à freudiana e introduziu pontos de vista originais, complementares para alguns e controversos para outros. A psicanalista considerava-se uma freudiana, parecendo não ter consciência dos profundos avanços que introduzia na psicanálise, e surpreendeu-se quando uma de suas discípulas, Betty Joseph, lhe disse: "Agora é tarde; você é uma kleiniana", ressaltando que ela estava crian­do um novo sistema de pensamento.
Klein é tida como a criadora da psicanálise de crianças por meio da técnica do brincar. Esta consistia em considerar o brincar durante a ses­são como equivalente à associação livre, ou seja, como discurso alocu-tório cujo significado emocional equivalia ao sonho do adulto.
Ao analisar seus pequenos pacientes, ela desenvolveu um entendimento muito profundo do funcionamento emocional do self infantil. Sua apreen­são do mundo interno da criança e das formas pelas quais as emoções ali adquirem significado contribuiu para o entendimento da personalidade adulta com seus núcleos infantis incrustados, que persistem por toda a vida.